sexta-feira, 9 de outubro de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
domingo, 31 de maio de 2009
domingo, 3 de maio de 2009
sábado, 21 de março de 2009
Rasurado
Não sinto pressa, sinto apreensão.
Uma inquietação serena. Um sabor.
Se a razão me abranda o raciocínio, um limite precipita-o.
Lança-o numa espiral de ideias, de palavras,
De frases não calculadas de quem nada tem a perder
E de quem tudo quer, nem que por um segundo apenas.
Não, pressa não. Basta.
Haja tempo para escrever, para emendar. Para passar a limpo.
Folhas brancas, sem linhas, sem riscos.
Dois passos atrás e estamos livres de novo.
Uma inquietação serena. Um sabor.
Se a razão me abranda o raciocínio, um limite precipita-o.
Lança-o numa espiral de ideias, de palavras,
De frases não calculadas de quem nada tem a perder
E de quem tudo quer, nem que por um segundo apenas.
Não, pressa não. Basta.
Haja tempo para escrever, para emendar. Para passar a limpo.
Folhas brancas, sem linhas, sem riscos.
Dois passos atrás e estamos livres de novo.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Paradoxo do mentiroso
Eu digo amarelo e sim, não faz sentido.
Não faz sentido algum, embora me tenha impressionado o branco dos teus olhos.
Por isso digo e repito, amarelo.
As coisas não têm de fazer sentido e em mim nada é ao acaso.
Não faz sentido algum, embora me tenha impressionado o branco dos teus olhos.
Por isso digo e repito, amarelo.
As coisas não têm de fazer sentido e em mim nada é ao acaso.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas,
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada,
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
-----
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas,
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada,
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
-----
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
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